quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Mercado aprova Tombini para o Banco Central

Juros futuros para 2011 sobem, indicando que investidores avaliam que novo BC elevará Selic no início de 2011; taxas longas recuam


Leandro Modé, Ricardo Leopoldo - O Estado de S.Paulo
O mercado financeiro aprovou a indicação do economista Alexandre Tombini para a presidência do Banco Central (BC). Não só por meio de declarações entusiasmadas, comuns em momentos como este, mas pelo comportamento das taxas de juros no mercado futuro da BM&FBovespa. No curto prazo, essas taxas subiram. No longo, caíram.
Significa dizer que os investidores, ao menos por enquanto, acreditam que o BC comandado por Tombini fará o que a maioria deles acha que tem de ser feito: elevar o juro básico (Selic) no início de 2011 para conter a escalada da inflação (que se encontra acima do centro da meta de 4,5% em 12 meses), o que abre espaço para quedas nos anos seguintes.
O contrato de juro futuro para abril de 2011 subiu de 10,91% ao ano para 10,95%. Para julho do ano que vem, a taxa avançou de 11,30% para 11,38% ao ano. O DI (forma pela qual o contrato de juro é chamado no mercado) para janeiro 2012 cedeu de 11,83% para 11,82% ao ano. No contrato para janeiro de 2014, a queda foi ainda mais expressiva: de 12,32% para 12,16% ao ano.
"O BC de Tombini tem todas as condições de ser independente do ponto de vista operacional", definiu o economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn. Ele discorda da avaliação de muitos no mercado (geralmente expressa em conversas informais, porque ninguém quer se indispor de saída com a nova autoridade monetária), segundo a qual Tombini seria mais suscetível a pressões do Executivo na definição do juro básico. "Tombini tem tudo para fazer um trabalho bem sucedido."
Goldfajn conhece bem o próximo presidente do BC. Quando comandava a diretoria de Política Econômica do BC, o economista-chefe do Itaú tinha Tombini como subordinado - era o chefe do Departamento de Pesquisa. O Itaú estimava que a primeira elevação da taxa Selic ocorreria em abril. "Mas estamos revendo", disse Goldfajn. Nas contas dos especialistas do banco, o juro básico encerrará 2011 em 12,75% ao ano - dois pontos a mais do que o nível atual.
Dois nomes que eram cotados para o cargo também elogiaram a opção pelo atual diretor de Normas do BC. Um deles, o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Fabio Barbosa, mostrou expectativas favoráveis em relação a Tombini.
Segundo ele, o próximo presidente do BC tem perfil "bastante técnico", é "extremamente sério" e dá uma indicação clara de que o governo manterá a atual política. "Aliás, conforme a então candidata Dilma Rousseff falou, durante sua campanha: seriam mantidos os pilares básicos da economia."
O outro, Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Bradesco, disse que a escolha de Tombini "é uma demonstração de confiança na qualificação acadêmica e excelência técnica dos quadros da instituição". Para ele, sua nomeação "indica o respeito da presidente eleita Dilma Rousseff para com a política de metas de inflação".
Para o presidente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), Marcelo Giufrida, Tombini é a continuidade da gestão da política monetária de Meirelles. "Éuma ótima escolha. É a escolha pela continuidade."
Raposa. O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto, elogiou a escolha de Tombini. "Finalmente, tiraram a raposa do galinheiro", disse ele, em referência ao atual presidente do BC, Henrique Meirelles, que veio do mercado financeiro (BankBoston) para o governo Lula.
"Tiraram o banqueiro e, finalmente, vamos ter um funcionário de carreira no comando do BC", acrescentou. / COLABOROU ANNE WARTH

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